domingo, 19 de fevereiro de 2012

(Deso)lado

(Relatividade - Litografia de M. C. Escher, 1953)

Do outro lado não há um lado como em geral os lados são, quer dizer, não há um padrão, contudo, um lado é sempre um lado e, como tal, é reconhecido por qualquer pessoa, exceto por mim que do lado de cá (e deste lado sinto-me a vontade para por em dúvida a retidão do outro lado) vejo o outro lado mais como um acidente ou uma ausência, uma dor profunda semelhante à nostalgia. O lado que necessariamente não representa aquilo que considero o lado certo, embora seja correto considerar a minha opinião como pouco afeita às simpatias pelos lados, tem por sua vez, outros lados e esta sucessão de lados deixa qualquer um aturdido, mais ainda, deixa qualquer um completamente enlouquecido. Os lados dos lados internos quase sempre tentam o centro, na pior das hipóteses sobrepõem-se aos lados externos o que causa certo furor nas estruturas que permitem a tantos lados a manutenção de alguma lógica. Os lados externos se esforçam para não serem sobrepujados. Inimaginável a existência de um lado sem o outro. Os lados se amparam e mesmo que não o saibam se suportam. Muitas vezes são responsáveis diretos pela sobrevida do outro lado. Sem um lado, o lado deixa de ser aquilo que é e passa a ser alguma coisa entre a realidade de um varal e a necessidade de vigas.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A voz da solidão

Duvidei e pouco depois a distância se acabou contra a parede, sombra acachapada no silêncio turvo, quase distração de olhos cansados de madrugada e inquietação.
Virar-me e compreendê-la ao toque, percorrê-la quase sem forças tal qual um mensageiro de longe, um visionário de vistas vazadas de luz e despenhadeiros abertos, custou-me um fim de tarde perdido pela janela da frente, a mesma na qual debruçastes tantas vezes a ver o revoo brilhante das andorinhas e o murmurinho distante da solidão.
Ater-me às conjunções astrais, ao desvario dos bólidos que se julgam capazes de galopar tais corcéis de zombaria, fez-me compreender que amar é mais como um beija-flor que na sua pequenez aventura-se solar, espraia-se alado bico amante aconchegado ao gineceu da tua descoberta, como eu, de ti aprendiz.






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