...talvez um licor dito de surpresa na oferenda de um fim de tarde chuvoso, correndo às pressas sob guarda-chuvas que teimam alados enfeitando o assovio do vento e dizer que sim, aceito, aprecio tanto tamarindo ainda mais gravitando leis de escuta e dizeres improváveis, contando chuviscos na janela e passos pela rua; e dizer que talvez te peça emprestada a tiara e adorne o alto dos meus sonhos para nunca mais acordar assustado. Mantê-la nua emoldurada às telas que abro com as mãos que antes um minuto a tocara num frêmito de imaginações. Dizer que a sombra descaída revela frases imagéticas ou fotografa suspenses descortinados entre um filme despigmentado e a chance única de dançar na lua passos de um Nijinsky astronáutico. Dizer de um amor em plano sequência dançado entre os astros escapulidos da criação e amar a dança soerguida plástica na nudez amanhecida dos corpos desmaiados. Dizer de um acordar sem hora e sem lugar só porque resolvi virar-me antes que as plateias desiludidas acordassem do transe sujo e tomassem o rumo do cu do mundo como se o acaso clareado lá fora fosse uma estrada de romeiros gretados expiando os meus e os seus pecados. Dizer que há uma fada adormecida à entrada do teu santuário e que só o sonho outra vez sonhado a faria em ninfa transformada, é tão menos visceral que a certeza fincada nas palavras que calo agora para que durmas no fundo da canção que não fiz.
Pintura "Ninfa azul sonhando" de Ana Luisa Kaminski