quarta-feira, 22 de julho de 2009

Depois daquela cena (take 1)


Tão pouco do abraço fica contra a luz das vitrines, tão pouco da gente nos carros que voando passam sem sentir o que imaginamos depois das portas abertas e da cena mal dirigida. Você atenta e nem aí para o meu amor, eu nem aí para o seu corte de cabelo meio punk e uma tatuagem estranha logo de cara no antebraço. Depois um sanduíche, novos diálogos (tão antigos) escritos ainda ontem, coca-cola que é sempre como sentir-se vivo em qualquer parte do mundo, mesmo tendo essa cor tão preta, parece piche[1], mesmo que não voltemos à cena, que nos percamos em pequenos fragmentos de estrelas e então uma porção de fritas agora que é quase noite e uma cerveja já não faz diferença, mas também não nos aproxima mais que um copo e mais outro noite adentro discutindo as melhores tomadas, e pouco depois já dia clareando por sobre os ombros é que te vejo tão bonita noite em claro e te abraço desejando bom dia pensando que talvez as vitrines retenham o reflexo da minha paixão. Desço a rua triste cansado moro perto ando a pé você tão longe manobra ré primeira segunda e some à direita tão na minha CONTRAMÃO.
Você pode até imaginar que eu suma na cadência de um samba inspirado, mas nem inspiração, tão pouco cadência no sumiço que tomo depois de nem me despedir. Saio à francesa deixando no ar a fragrância das minhas dúvidas e um pouco das incertezas que bebi em diferentes copos. O samba vem de um ponto qualquer da cidade, uma calçada de gente que nem se olha, mas que samba; samba e também some sem aviso-prévio entre os prédios e os carros que voando passam sem sentir nenhuma dor, sem perceberem que sigo sozinho ao contrário de tudo para onde vou.
[1] Alusão a um verso do poema Mural 79 de Edson Eugênio dos Santos

terça-feira, 7 de julho de 2009

O VOO DO ANJO SEM COR

Navegas só agora pedra e
Afundas num céu de sorrisos bobos
Arlequins que não se tocam anjos
Nem sonhos que se deixam tocar
Não és mais o eu nesse instante
Quem vive ou se confunde gente
És um ser habitado na passagem
De um agora para outro adiante
Quem habita não se sabe habitante
Quem fica não se percebe ausente
A pedra que voas edifica
Alguém num espaço de vazios
O que se edifica é nada
Mas tudo pleno e perfeito
Um plano que aterrissa sereno
Mesmo que sem muito jeito
No meio de um todo de pó
Regressas de tantas partidas
E partes de uma vida só.
(para Michael)

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