
domingo, 29 de novembro de 2009
Outra bárbara natureza

domingo, 25 de outubro de 2009
O silêncio da deserção
domingo, 27 de setembro de 2009
Versos para o fim do mundo
domingo, 23 de agosto de 2009
O PARAÍSO DE OZIRES
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Asas de mariposa
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Depois daquela cena (take 1)
Você pode até imaginar que eu suma na cadência de um samba inspirado, mas nem inspiração, tão pouco cadência no sumiço que tomo depois de nem me despedir. Saio à francesa deixando no ar a fragrância das minhas dúvidas e um pouco das incertezas que bebi em diferentes copos. O samba vem de um ponto qualquer da cidade, uma calçada de gente que nem se olha, mas que samba; samba e também some sem aviso-prévio entre os prédios e os carros que voando passam sem sentir nenhuma dor, sem perceberem que sigo sozinho ao contrário de tudo para onde vou. terça-feira, 7 de julho de 2009
O VOO DO ANJO SEM COR
Navegas só agora pedra equinta-feira, 25 de junho de 2009
À TERRA DO NUNCA
quarta-feira, 17 de junho de 2009
(per)plexo
A porta range e o princípio da noite desfia a cena: jogado na velha poltrona não vejo você, apenas ouço o ranger de tanto tempo e que não significaria nada além de mais um entre tantos miseráveis entrando a cata de alguma porcaria que deixasse seu fim de tarde menos podre e descolorido. Mas é mesmo você; vejo quando você levanta a minha pálpebra direita entrando inteira no meu campo visual perguntando quantas eu havia tomado e se, por um acaso, fazia ideia da semana, dos riscos, das pessoas que se perguntavam onde, como, quando; arrasto-me até o banheiro e noto o quanto o registro do chuveiro é alto, tão alto Everest das minhas águas salvadoras que me deito sob os furinhos pensando que talvez uma dor aguda me eletrocute e recebo na cara um jato gelado avisando-me que tudo aquilo é a mais intensa realidade e que tanta realidade só é possível quando você chega trazendo alguma comida e cigarros comuns. Ouço sua voz dizendo que está separando uma roupa e que a toalha já está sobre o assento do vaso sanitário; empurro a cortina e o mundo parece menos fétido e mais compacto. Sento-me e deixo que a água gelada escorra mais alguns segundos, o bastante para sentir-me outra vez provido de pernas e alguma boa vontade.
terça-feira, 26 de maio de 2009
DO SORRISO DAS PEDRAS À CRIAÇÃO
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Todas as vozes que (não) estão lá
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Uma janela para sempre
domingo, 12 de abril de 2009
Crônica de um naufrágio anunciado
Atrai-me o drama de um adeus no convés; atrai-me mesmo se for às escuras, por sob os cobertores, um adeus contrito, quase prece, soluço de cores piscando na insistência dos olhos abertos dentro da cerração, quase do outro lado quando a manhã violentamente explode com todas as malas prontas e com todas as dúvidas ainda por serem dirimidas, algumas escondidas nas dobras dos lençóis, outras mais robustas afastando os móveis, criando situações desagradáveis, destemperando humores, asfixiando com palavras caladas, apressando os gestos e o elevador. É quando nos esbarrões pelo apartamento descobre-se que não há mais poesia quando nos tocamos, mas uma espécie de pudor epidérmico ressequido em nossos corpos velados, nada mais se revela além da abundância das despedidas em tantas manhãs minimalistas, nas quais um suco de laranja, fatias de pão integral, documentos sobre a peça que você insiste chamar de arca, as chaves do carro sempre no mesmo lugar, tudo exatamente a mão, tão pasteurizado e em comunhão com a mesmice dos sorrisos e dos sabores. Depois, o caos das ruas, o olhar maquinal que atravessa os minutos de um instante até o outro carregando um fotograma desfocado, uma mudez fixa e virtual entre as indecisões de um caminho tão familiar e, no entanto, tão desconhecido. Lembrar ainda, que dali a pouco nos veremos dentro das órbitas alheias transfigurando a mudez em monossílabos aquiescentes e prestações pouco vivas, sim porque tudo voa e se espatifa mais a frente quando nos dizemos adeus assim que nos encontramos nos conveses dessas nossas viagens e desaparições. Tudo me atrai e trai-me tão intensamente que sangro meus sonhos num último beijo antes de deitar, antes que o tempo me converta e eu morra hoje como ontem, acenando do convés de uma embarcação que quando parte já é tão tarde como nunca. sábado, 21 de março de 2009
Um toque de leitura
Não quero que venhas depressa, mas nas pontas dos pés. Assim, feito bailarina. Quando chegares bem perto, quando enfim assumires as proporções de mulher recortada sobre um fundo disforme, não me furtarei ao toque na tua cintura num pax-de-deux que tanto me agrada e atemoriza. O livrinho que carrego, deixarei para que leias, mas não em momentos de silêncio, leia-o em meio à turba dos lotações, no momento do pênalti desperdiçado ou quando das execuções, leia-o em voz alta aos berros de bezerro desmamado, em meio às brigas de casais, nos terreiros de nossas áfricas domésticas, sob as goteiras das marquises enquanto o ônibus não vem, mas sim, me desculpe, onde estávamos mesmo antes do livrinho que carrego e que gostaria que lesses sem amargura mesmo quando à morte de alguém tão querido, mesmo que os teus homens gozem tão antes de te arrebentares contra a dor incomunicável de um prazer medonho e cego fora da cama, por entre as plantas, contra a porta, escorrendo melancólico feito um adeus. Há também um adeus em cada página do livrinho. Perceberás que são adeuses sem ressalvas, secos e dirigidos às mulheres que me abandonaram antes da minha felicidade provisória, aos idiotas que arvorados na história removeram minhas tripas mais açougueiros que clínicos deixando um vão, um talho daqui até o fim da nossa pouca sorte manquitola escorada em arrimos de pouca salubridade. Se estiveres levitando - minha doce bailarina - saiba que repousarei o livrinho como de costume, naquele banco de jardim (dizem que ali casais mascarados fizeram juras aflitas num carnaval cuja eternidade duraria até as cinzas, depois viriam outras páginas tingidas de uma morte tão natural que escrevê-las seria como esta dança que não canso de desejar). Se não o encontrares é porque alguém desavisado o terá levado junto ao peito, protegendo-o da chuva de projéteis perdidos que se acumulam no céu a espera de passantes sem nomes, mas de nada importará, pois não terá nome além de livro, nem feições além das suas, não terá sequer aspirações além daquelas comuns às páginas viradas, fixadas sobre um fundo de paisagens em movimento. sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Cortázar e Gabo um tanto nas (entre)linhas
"[...] vou me fazer de moderno no meu encontro com Deus"* (Sérgio Sampaio)
Alguém que anda por aí com aquele de quem lhe falei só pode mesmo causar alvoroço. Nem sempre é fácil entendê-lo o que, aliás, é tarefa para poucos; se muito, o que se pode tentar é alguma coisa que sirva como aceitação dos gestos e atitudes ou como parte de um repertório mais ou menos fantástico e que agrade os povos em vias de extinção. Se como pano de fundo há uma orquestra ou mesmo um DJ que busquem em suas evoluções uma antecipação da próxima manifestação divina, é certo que chova uma garoa fina sem comprometimento nenhum com o estado geral das ruas ou com a promessa de que não morreremos por conta dos pecados que tenhamos cometido ao longo do último dia. Se, por outro lado o palco nada sugerir além do que prevê sua conformidade de palco, o segredo de Diadorim estará para sempre seguro. É certo que depois de tanta dor amanheça um dia fora da semana, um dia que ainda não foi gerado pela dinâmica da rotação, um dia que ressuscita já que não aprendeu a matar.
Alguém que anda por aí com aquele de quem lhe falei foi antes denunciado pelo pai numa espécie de relação cristã que geraria algum lucro e certa poesia. Visto pela primeira vez, alguém que anda por aí – certamente orientado pelos gatos – já se insinuava feito uma sombra; daí que caminharem juntos pelos próximos anos de solidão não constituía nenhuma adivinhação. Os prêmios não seriam pagos até que a menina caísse extenuada depois de semanas brincando de amarelinha dentro daqueles dias ainda não inventados ou recebendo um a um, em sua pequena santidade, aqueles monstros insensatos. Tudo e mais um pouco lhe daria tempo bastante para visitar todas as prostitutas do bairro habitado pela distância dos sonhos de uma noite acordada. Na volta, alugaria uma casa – certamente tomada por generais inescrupulosos – e daria entrada nos papéis. Esperaria a noite de sábado para festejar a liberdade dos jovens e a detenção dos patriarcas. Na manhã seguinte, alguém que era deus talvez aparecesse trazendo dúzias daquelas pequenas dúvidas e notícias de um tempo que os jornais não publicariam jamais.
*trecho da letra "Leros, leros, boleros"
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Santificadas sejam as dúvidas e as esperanças
Algumas poucas sombras revelam ainda a luz chorosa, carcomida sobre os móveis, gotejante de alturas caladas em cujo cimo alguns anjos tramam a derrama de uma escuridão implacável. sábado, 3 de janeiro de 2009
ALÉM DAS VIDRAÇAS, ADIVINHAÇÕES
Certamente, não se descortinam os edifícios à minha frente, pois concretos. Não posso tocá-los e nem afastá-los um pouco para o lado entrevendo teus passos conspirados pela vontade de quem narra; não posso sequer fazer-me ouvir tal a distância entre a realidade e as linhas que se multiplicam nas adivinhações do escritor. Estás do outro lado, aonde não te alcanço, aonde não posso lançar-te as cordas e nem a sorte; fixa às páginas donde arrancá-la corromperia a própria compreensão da trama. Estás quase levitando enquanto os edifícios medonhos e cinzas se esparramam no meu parco horizonte. Faz frio dentro da minha inquietude, mesmo que o sol desabe a pino. Faz frio porque me parece mais dramático. Atrás do vidro a incompreensão do sol agarrado à rua cega-me tão duramente que te esqueço a pique nas marés de outras avenidas; barcaças e barcarolas se fingem de ti, mas astuto não embarco, e por não fazer o papel principal lembro-me, além das vidraças que não te ouvem, dentro das roupas que não te vestem, ouvindo as músicas que teu corpo não dança mesmo em noites frias e depois de tantas tequilas, outra vez de ti. Lembro-me de buscar as trancas e deixar atrás de mim a porta escancarada sem pensar em mais nada que não fosses tu, mas as entrelinhas da narrativa crucificam-me à vidraça, à luz filtrada de um sol abobalhado, à velocidade de uma fuga em si bemol. Tu, então, não és mais nada além das letras que escrevo e leio. Que escrevo e leio para sonhar. Para sonhar com as adivinhações além dos edifícios. Além dos edifícios que não me deixam olhar-te. Olhar-te, além da visão; ver-te além das palavras. 




