domingo, 23 de novembro de 2008
Prêmio Dardos
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Bossa nova
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Arremetida
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
CÍRCULOS
terça-feira, 30 de setembro de 2008
AS GUERRAS NOSSAS DE CADA DIA
Depois de tantas horas me enfio pelas ruas – caras tristes por entre espinheiros cochicham entre si fuxicos chorosos (se bem que a garoa e a lágrima disfarcem o inevitável) - e sorrio poucos uivos para uma lua amarelenta pousada entre escuros de rara revelaçã
o.
Outras ruas assomam à minha vigilância; arroubos de cores e profundidades diversas estendem-me mãos calosas de uma obra irretocável – hora de ainda não chegar.
Anjos espiam por entre os mesmos espinheiros como se ali repousassem abraçados, quem sabe indecisos ou precisamente encharcados de um vôo temporal. Quase do mesmo modo estiram-se à passagem dos homens sob rajadas de um hálito divinal que não expele outra ameaça a não ser aquela que te faz vergar sob o peso dos escombros que um dia chamaste corpo ou combalidos pela iniciativa do verbo que, em princípio, jazia nas páginas de um relicário. Rezam, enquanto folheamos instruções e ouvimos um blues que é pura perdição. Mantendo as aparências pensas em um sujeito qualquer em qualquer um desses sonhos Tarantino violentando ninfas indefesas que por ventura borboleteiem rosas próximas às minhas mãos.
Paro. Percebo que a rua é mesmo esta e que você realmente me acena e chora e que levo um fuzil às costas e que o pelotão todo acena para tantas outras mulheres em suas varandas que bem podem ser um cais ou uma estação e que os lenços brancos como pombas agarrassem-se às mãos como representação de uma possibilidade a mais. Mais adiante despenco por um barranco desenhado especialmente para mim e quando finalmente encontro outra rua me levanto sem saber que as feridas foram lavadas na água do teu banho e que o silêncio no qual me afundo é outra vez um salto espectral às janelas onde não há mais nenhum amanhecer; apenas a rua que é um caminho em qualquer mês por onde sigo cego no encalço de outras mentiras. Sempre extensa, nela todos se cumprimentam, trocam preocupações, abrem seus corações, profanam memórias, recolhem seus jornais e se enfurnam na brevidade dos álibis. Quando chego ao outro lado, olho a rua que caminhei, olho seus sobrados desabados que para sempre guardam suas canções, olho suas crianças que brincam de ilusões e olho você que me olha tão aflita como se do fundo de nossas vidas chegassem notícias de uma lua amarelenta pousada entre escuros de rara revelação.
*Ilustração de Lima de Freitas para a edição polonesa de A Marcha (1956) de Afonso Schmidt
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Das objeções, dos objetos e da inconsciência
terça-feira, 16 de setembro de 2008
A manhã e o desencantamento
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Ao meio-dia de um quarto trancado
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Rota de colisão
Acredito que fui eu quem te olhou na distância de uma dor pontiaguda similar à vastidão de uma legião de meteoros sem rumo que se abate contra um planeta qualquer nos confins de um espaço embriagado, e já que a doçura dos teus olhos fulminantes fez um dia disparar um instante de redenção e tão poucas causas de alegria, sim fui eu. Quem ficou mesmo perdido sob um sol paulistano 35 graus e tem quem não acredite que os corredores intermináveis de prédios para todos os lados e a algazarra térmica do piche preto movediço provoquem um calor medonho que me prostra e embaralha os rumos dos meus olhos ensolarados e você num rasante sem prumo cravando os punhos na decisão de enxotar-me e eu novamente atônito escondido e desejando que o dia não mais se prolongue, pelo menos não a esse ponto ou nessa direção precipitado e agarrado à chance de rebelar-me no mesmo segundo em que resolves despir-se para uma distância transparente de sóis aflitos e enciumados, e sim. É mesmo um dia qualquer de ilusões chorosas e desculpas intermináveis ou sou mesmo eu sem sentido, mas. Mesmo assim se perfilam e caminham ao meu lado e posso até tocá-las, oferecê-las como mais um desperdício no balcão ou procurar o chão e rolar para o outro lado aceitando que nunca mais anoitecerá aqui fora, que iremos embora devagar e divagando enquanto os meteoros convergem e destroçam outros momentos fugazes dentro dos quais sorriremos um dia ainda atracado no futuro na movimentação das dúvidas ou das tuas ancas caprichosas, e sim sou eu. Em rota de colisão quem olha para todos os lados e do bolso retira um papel amassado com letras sentidas em vermelho tão perto do peito e que dizem tolices tão dentro de você que se materializam e digitam um código qualquer que te faz surgir bem ali, mas. De qualquer forma (in)vestida de sombras é em ti que repousarei meu corpo cansado de tanto seguir por vias mal iluminadas onde não distingo a natureza da maquiagem nem os motivos da gargalhada. terça-feira, 26 de agosto de 2008
Não antes de tudo dar certo
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Vinte e quatro quadros
Enquanto permanecias retida na fotografia, latejava por dentro uma agonia salgada de espelhos vivos e águas indiscretas, também danças que bruxuleavam junto ao furta-cor de uma castidade imediata. Quando movias a cena como no cinema, ao redor folhas de um outono esmaecido rodopiavam tangidas por acenos e descuidos. Quando então te movimentavas decidida, paralisavam-se as dimensões e dos cenários rasgados escapuliam tuas faces, teus trejeitos e todos os teus personagens. Escapulia inteiramente lânguida fatal e lançada nave lúbrica. Quando resolveu olhar, já destacada da imobilidade em preto em branco, eu já caminhava apressado. Pude sentir o fogo dos teus olhos verdes cravados na minha nuca. Não olhei. Preferi mantê-la como a uma fotografia que eu pudesse simplesmente fechar num álbum ou suprimir de meus arquivos. Esqueci-me, contudo, tratar-se de um filme e os efeitos especiais foram tão mais eficazes que acabei prostrado vendo-a a minha frente em desafio. Teus olhos já não eram fogo, eram pura euforia e dentro desta euforia teu coração batia descompassado, ora um tango levado por Piazzolla ora retumbante Vai-vai despencando pela avenida. Resolvi procurar outra saída e descobri que todas as vias estavam repletas de sonhos inacabados que se agarravam à noite como quem luta desesperadamente por um amor silenciado na dinâmica de vinte e quatro quadros.
sábado, 16 de agosto de 2008
Post especial
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Em ti e no silêncio que habitei
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
As fuças do dragão do tempo
terça-feira, 29 de julho de 2008
Desejo, palavra e vida
Desenhe minha palavra e use as cores da moda, use um toque indigitado e uma pergunta indiscreta.
Use trajes típicos e não demonstre arrependimento. Desenhe o que ouvir e o que acreditar ter ouvido; a diferença, embora abismal, não causará danos assim tão irreparáveis.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Terceiro fragmento de um amor conspurcado
Quando abres a porta e ainda da penumbra fixa-me contra o fundo onde estou, é tão inevitável achá-la virginal; mesmo sabendo que ainda há pouco (antes que a manhã retocasse tua noite avisando-te o quanto ingeriste de álcool) esse alguém, que ouve ainda um vazio, (já que sequer respiramos) a tenha possuído tanto e tão profundamente (que agora me pareças trêmula), mesmo assim a contemplo como a uma Náiade prometida e que só a mim fartaria com tuas águas e sabores, com seus tantos suores e licores. Não há outra concepção de ti a não ser esta que me ofertas com os olhos que sorriem mesmo que lacrimejem nossas ausências. O que de ti concebo não são enlaces e nem cordas, são camadas de cetim que não canso de desnudar, são aparências sacras cuja maquiagem sacrílega acorda-me a tormenta de não poder tocá-la. Ainda outro dia, de tanto que me davas as costas cheguei a pensar que jamais guardaria tua fisionomia, hoje desejaria esquecê-la, arrancá-la das retinas e dos álbuns, mas tudo o que consigo é mirar-te da porta e desejar que te atires no precipício que te ofereço como alma. E como um Hércules pelejando por Dejanira, tento livrar-me do fundo e aproximar-me de ti; um gesto se precipita em afago e uma voz lá de dentro parece aproximar-se aqui de fora. terça-feira, 15 de julho de 2008
A impronúncia manifestada
Quando abro os olhos e é você quem me vê, o mistério é todo da cor de vigarices e passeia lentamente dentro do escuro que ainda colore a retina; é possível prová-lo pelas mãos ligeiras de quem me furta a ida e a vinda pelas vias de uma vida que não é minha. Quando a manhã se arrebenta repentina, se apresenta sem retoques é você quem pousa na grade tão santa clara clareando as palavras que vou mentir – uma por uma – só porque não sei dizê-las (quando silencio, os manifestos voam rasantes). segunda-feira, 7 de julho de 2008
De tanto você
De tanto você cego meus olhos num blues de céu atônito e remôo minha cômica pose démodé.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Ilustração de uma noite pouco azulada



