terça-feira, 1 de julho de 2008

Ilustração de uma noite pouco azulada


Um azul desbotado, índigo rasgado num céu de dragões e aeronaves, escapole à vigilância e se atira à noite como quem, por detrás das cortinas, se declara ausente; é agora um céu repleto de estrelas refletindo calçadas apinhadas de andanças e revoltas que dançam num palavrório de acusações.
Há sempre alguém encapsulado em si mesmo fugindo do tempo, reaparecendo em flash como que cuspido pela mesma boca imensa que devora, um a um, os comensais desta noite que vagando em sua própria rotina, arrasta os sonhos e rasga as conclusões, determina o caminho e a velocidade, declara guerra à leitura desatenta dos manuais de instrução e sabota as horas nas quais, talvez, encontrássemos abrigo.
(Dentro da noite pouco azulada todos somos ilustrações de desejos voluntariosos que nos vem por dentro confrontando valores e perversões).
Além das palavras reescrevemos vazios, e mesmo que os duetos profanados te pareçam baldios, buscamos redenção além do mesmo hiato azul reinventado na distração de uma manhã na qual saramos as feridas de uma página em branco.

15 comentários:

Anônimo disse...

Arrastamos azul nas grilhetas dos dias
validos na força onírica de viver
sentamo-nos nas pedras flutuantes das ideias devorando a velocidade do instante.

Abraço deste lado do mar!

jalves

Fabrício Brandão disse...

... e assim reinventamos a vida com os matizes misteriosos de nossas projeções...

Abraços, Sérgio!

Leila Andrade disse...

E estas são algumas das lições da cor azul, entre tantas...

Beijo azulado,

Cristiana Fonseca disse...

Belíssimo poema , belíssimas palavras.Encantei-me.
Beijos,
Cris

Jacinta Dantas disse...

No azul, nos seus vários tons, podemos nos reinventar, pois no caminho sempre haverá páginas em branco para fazermos a história - sarando as feridas.
Um abraço

Rose disse...

bel�ssimas manh�s nas quais podemos sarar as feridas das p�ginas em branco...que elas, apesar dos raios dourados do sol, sejam mais azuladas que a noite...

abra�os

f@ disse...

Quando o azul se atira à noite, fica o céu por tua conta... para o descreveres e pintares... com essas palavras coloridas ainda nos ofereces um dia um post com arco-íris nocturno...
Impossível não reler este post…lindo ....
beijinhos das nuvens

Oliver Pickwick disse...

Mostra que verdades viscerais são incompatíveis com o azul intenso, limpo e luminoso. Porém, são profícuas no azul desbotado, quase obscuro. Uma realidade paralelela? Sujeita a filtros de luzes e cores?
Desconfio que é um cyborg, que transita no dia-a-dia dos mortais comuns, além do mundo de Matrix.
Um abraço!

P.S.: Excelente pintura, a da ilustração. Por acaso de sua autoria?

Van disse...

Uma bela trama de palavras e entrelinhas...
Tudo extremamente intenso, profundo, misterioso, um tanto melancólico talvez... Coisas que eu gosto muito.

"Há sempre alguém encapsulado em si mesmo fugindo do tempo..."
Perfeito! Mesmo! Palavra de ser-crisálida!

Muito bom teu blog e teus escritos, moço.
Já está nos favoritos e com certeza nos links.

O que é bom, temos que manter por perto.
;)

Beijucas

VAN FILOSOFIA!

Aline disse...

Olá, Sérgio! Muito obrigada pela visita e pelos comentários. O seu texto é muito bonito, pungente, maneja belamente as imagens e ilustra muito bem nossas almas angustiadas, à mercê das horas e em ânsia de movimento.
Voltarei também! :)

Nilson Barcelli disse...

Não são apenas palavras que escreves, nem vazios. Há muito mais na tua escrita, parabéns.

Bfs, abraço.

mariza lourenço disse...

ei Sérgio, o prazer é todo meu. sua Ilustração de uma noite pouco azulada é linda. especialmente esta preciosidade: 'além das palavras reescrevemos vazios'. absolutamente verdadeiro, ainda que oculto sob o manto de uma noite pouco azulada.
quem escreve bem é você. *;)
grata pela visita, pelas gentis palavras e, mais uma vez, o prazer é todo meu.
um beijo.

f@ disse...

Foi boa ... ilustração mto bonita... como dizes tu... que nem respondi... respondo agora ... sentados na lua à espera dio teu arco-íris...
beijinhos das nuvens que andam de dia

Unknown disse...

A dor revelada não é menor do que a contida. Mesmo sendo "o poeta um fingidor" ele usa a palavra, como uma tentativa de desencapsular a alma e de a limpar, até que ela se torne clean e transparente e assim, o ser, mais leve, pode correr atrás do azul absoluto e quem sabe, numa manhã de sol e neblina desembocar em beleza, num infinito espaço arco-iris.
Obrigada!
Bjusssssssss
Elivan

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

"Além das palavras reescrevemos vazios, e mesmo que os duetos profanados te pareçam baldios, buscamos redenção além do mesmo hiato azul reinventado na distração de uma manhã na qual saramos as feridas de uma página em branco."

Lindo!!! Tua escrita surreal e primorosa, cuidadosa, instigante, misteriosa e, ao mesmo tempo, tão delicada, sempre me agrada, amigo!... Sim, tantas vezes inventamos ou preenchemos vazios com a mágica da palavra, e, também, nos saramos de fendas, feridas, descaminhos, pela potência poética da reinvenção de cores e sentidos! ABraços alados.

(Grata por tuas visitas e comentários gentis. Perguntaste outro dia se poderias usar uma de minhas imagens: fique à vontade, será um prazer ter uma das pinturas junto de teus escritos!)

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