(deitar-me e ler-te, então)
Quero teu corpo como a um livro que eu
escreva não com as palavras que nasçam em mim, mas com as súplicas dos anos em
que deixamos de sonhar; talvez não queira escrevê-lo, mas lê-lo em segredo de
criança, ouvir-lhe as entrelinhas sussurradas, desvendar-lhe os versos nas
pontas dos meus dedos literatos e pacientemente participar de uma ode a dois na
qual tu gemas versos de indelicadezas sensuais e meus ais pronunciem o desejo
de mais uma página. Quero escrever-te como a um jornal diário dizendo-te além
do amor todas as paixões em seções inesperadas, paixões escritas e inscritas na
imensidão que olhas perdida quando a pontuação evidencia pausas e respirações,
quando os parágrafos altercarem não ideias, mas a cidadela sitiada entre os
montes da minha inspiração. Também preciso que me escrevas no vão retido tênue
da alma-ave migratória que fazes voar todo mês, nave-mãe de sóis criados à
sorte dos dizeres descabidos, poema em si despido de palavras exatas, incontida
senhora das horas em que me amarras à sombra de tuas coxas poderosas e me
sufoca com teus sufixos sulcados às minhas costas. Então o recuo ante o final;
mais um capítulo ao tantra, mais um paraíso de algodão amarfanhado pelas mãos,
mais um tremor espalhando letras pelo chão.
2 comentários:
Querido amigo, o texto está lindo, e adoro teu estilo pulsante, sensível, sensual, simbólico, sinestésico de tecer e pintar e musicar com as letras!!! Porém, um detalhe: que tal colocar um tamanho maior nas letras? (lembro de já ter sugerido isto uma vez, hehehe!). Ficaria ainda melhor para desfrutar da beleza e sensualidade de tua escrita. Abraços alados azuis!
E que sempre tenham letras de sobra. Bjs
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