terça-feira, 16 de setembro de 2008

A manhã e o desencantamento


Antes de as cores
reverberarem caladas, correndo confusas contra o pano de fundo que a rotação secreta, ouvi do escuro da noite em branco que a explosão não deixaria vivos nem avisos e ouvi dos vivos que a mácula não seria uma anedota sem sorrisos e nem o fim do silêncio. Apenas a luz borrifada na face dos poucos falsos viventes, poucos viventes indecisos e desavisados de si, comprometidos com a dor lancinante de anunciar o desenlace com a trama.
Não haveria um suspiro derradeiro e nem um olhar de soslaio, compadecido ou ao mesmo tempo intrigado, não haveria um novelo que eu desfiasse e me levasse de volta antes de as cores reverberarem caladas, confusas, contra um fundo tão imenso e sem você, quando tudo fica meio cinza e não que as cores talvez porque misturadas demais não se dissolvam; talvez. E depois de cinza tudo amanhece sem graça sem arruaça de sol bulindo no meio-escuro espreguiçando varandas orvalhadas.
Mais um pouco e os primeiros ruídos clareados irrompem dias feriados e flagram teu rosto inda adormecido sobre meu peito, estamos nus e ainda sonhamos colorido já tão próximos ao desencantamento da manhã. Então continuar assim sem ligar sem buscar sentido nas mãos que esmurram a porta quebrando a corrente física, sobressaltando nossos corpos e impondo a dormência de um cinza absoluto e ensurdecedor, e não tem mesmo sentido algum alguma coisa de fora de outro lugar no mundo apossar-se da hora em que tudo ficou decidido tatuado e colorido dentro da madrugada chegar dizendo que é hora como se nada antes importasse ou fosse a razão de estarmos ali como se as translações ao redor dos nossos desejos nunca buscassem um sol ou mesmo um motivo que nos devolvesse a fuga para nunca e nunca mais cinza do que a mistura das luzes noturnas atiradas contra a janela de cortinas soltas que ajudam a congelar a gotícula de suor que escorre em seu dorso e as mãos que nada têm a não ser o remorso de bater à porta.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quanta paixão e que intensidade!
Gostei bastante dessa parte:

'e não tem mesmo sentido algum alguma coisa de fora de outro lugar no mundo apossar-se da hora em que tudo ficou decidido tatuado e colorido dentro da madrugada'

Lindo, Sérgio!
Parabéns!

Beijos!

Oliver Pickwick disse...

Prosa poética num teatro georgeorwelliano. Me lembrou o cenário de 1980. Aos poucos, vai reinventando o estilo literário existencialista e, fato inédito nesta estética: tem ingredientes de suspense, anseia-se para conhecer o desfecho.
Acho que a ponte aérea São paulo-Sergipe lhe faz bem.
Um abraço!

f@ disse...



Que o que mais gostamos corre rápido … e não se repete o que se inter rompe… corta-se a corrente e depois "perdidos" já nem sabemos onde ficamos antes… é nesse ponto que a cor muda …

...em céu de cinza o sol a tactear os raios, afectos nostálgicos por tardar a partilha-los com aurora…com os homens com o mar …
Encantos na madrugada não perdem o brilho se a essência da cor permanece…
ao sol da manhã , depois de esfregar os olhos … por certo o sol só por si não vai encandear…
e mtas noites e mtas manhãs e a porta entre aberta
Beijinhos das nuvens

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