segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Das objeções, dos objetos e da inconsciência

A PRIMEIRA cadeira que vi estava vazia, não que outra estivesse ocupada, mas a primeira que vi estava especialmente vazia como se ali nunca ninguém sentara antes.
Vazia de corpo e alma, tão vazia que sequer lembrava uma cadeira e, embora eu a reconhecesse como tal, não me inspirava sensações que, comumente, as cadeiras inspiram. Não quis me sentar e nem quis circundá-la como a uma partner que se toca de leve na cintura dando vida a dança, não uma dança qualquer, mas destas danças que se dançam com cadeiras vazias e que, então, nem são mais vazias, pois preenchidas pela dança de alguém. Não quis nada com a cadeira que se contentava em ser um modelo morto escorada à mesa que nem era mesa, como de fato são as mesas quando estão próximas às cadeiras, pois a cadeira de tão vazia distanciava-se daquilo que, embora mesa, não o sabia. Não quis saber da cadeira que não sabia ser cadeira e nem porque moldada como tal, estranhamente feliz na sua incompreensão de cadeira vazia.

21 comentários:

Sr do Vale disse...

Um escritor faz seu texto de um quase nada,uma simples cadeira.

Sérginho, logo de cara, lembrei-me de uma coisa que certa vez o Jade me disse:
Durante os tempos da cortina de ferro, um escritor ficou encarcerado como preso político durante muitos anos, e ao sair vários jornalistas estavam presentes, foi quando um deles se aproximou e perguntou, o que ele queria naquele momento?

E com toda simplicidade do mundo ele falou:

Uma cadeira.


Abraços.

Cristiana Fonseca disse...

Belíssimo texto.
Você Sérgio, vai além das palavras e letras. Tens alma poética.
Belo, silmplesmente belo.

Stella Petra disse...

Amigo Sérgio,voar em suas palavras...é uma via que em alguns momentos, vai a uma velocidade quase invisível, tamanha a dimensão de seus sentimentos impregnados nelas...São essas viagens, que me fazem ser cada dia alguém melhor...Quantos momentos de nossas vidas, passamos por sentimentos existenciais de dúvidas, inseguranças, cegueira, teimosia? Quiçá pudéssemos chegar a simplicidade de olhar sem questionar...simplesmente. Olhar!
Maravilhoso texto...muito reflexivo...Parabéns!
Lembrou-me uma frase de Einstein quando disse: “Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela”.
Uma Maravilhosa PRIMAVERA
Beijinhos estalados
Stellinha :)

Duarte disse...

Uma cadeira...
como uma simples cadeira pode servir como fonte de inspiração e criar um texto.
Boa capacidade a tua, para girar ao redor duma cadeira, duma simples cadeira, que pode ser útil alguma vez e até prazenteira, tudo depende como estejas de cansado.

Abraço

Anônimo disse...

uma cadeira
é uma cadeira
é uma cadeira...

parabéns pelos teus
belos textos, Sérgio Luyz
Rocha, de Sampa/Aracaju.
Esse último, não sei pq,
tb me lembrou o copo vazio,
do Chico.

Outras primaveras
te trarão desejos q
renderão textos ainda
melhores, já que, ao que
parece, é o que te move.

Um abraço, menino.
Leda

Oliver Pickwick disse...

Reiventou o [design] da cadeira. A galera da Bauhaus que se cuide!
Um abraço!

P.S.: Fizeste bem em não sentar-se na tal cadeira. Quem sabe, não era a "cadeira perigosa?"

P.P.S.: No centro da sala, uma grande mesa retangular de madeira escura, robusta, confeccionada de uma maneira que beirava o rústico, sem toalha, entalhes ou qualquer tipo de trabalho artístico, era contornada por doze cadeiras dispostas em grupamentos de seis para cada lado maior. Não havia cadeiras em nenhuma das cabeceiras. Sobre a mesa, na direção da terceira cadeira de um dos lados, contada da direita para a esquerda, havia uma tigela de louça rasa, muito alva, contendo um peixe, tão viçoso como se pescado há poucos instantes. Os dez homens sentaram-se ocupando as cadeiras, à exceção daquela localizada em frente da tigela e da outra, oposta, do outro lado da mesa.
[...]
Os homens dispunham-se à mesa do mesmo modo que, segundo a tradição, José de Arimatéia, o primeiro guardião do Graal, o fazia com seus seguidores após a sua chegada a Glastonbury e fundar uma sociedade secreta denominada A Segunda Mesa da Última Ceia. A resistência pagã a qualquer manifestação cristã na antiga Britânia, do início do primeiro milênio até o ano 500, era violenta e freqüentemente mortal, daí a necessidade dos encontros de José de Arimatéia e seus companheiros darem-se em absoluto sigilo. A primeira cadeira vazia, de frente para a tigela com o peixe, reverencia o Cristo; a segunda, uma alusão a Judas, o Iscariotes, também permanece sempre vazia. Mas se alguém tentar ocupá-la, será devorado pelo lugar de forma misteriosa, tornando-se este assento, desde então, conhecido como a cadeira perigosa.


Em primeira mão: trecho do meu romance a ser lançado em Novembro/2010, depois do livro de contos (em Novembro de 2009).

P.P.P.S.: pelo visto, entendemos de cadeiras. :)

Jacinta Dantas disse...

Oi Sérgio,
suas tramas estão sempre me levando a imaginar o que está por trás da trama, ou por baixo...quem sabe?
Beijos

Graça disse...

A cadeira até podia estar vazia, Sérgio, mas as suas palavras vestiram-na de forma plena.
Bjs portugueses.

Fá menor disse...

Se não precisava da cadeira não tinha que fazer caso dela.
Assim na vida quando nos tentam impingir aquilo de que não precisamos para nada.

Unknown disse...

Não está em causa a beleza do teu texto. A riqueza do simbolismo que contém. A fértil imaginação que é teu apanágio. Não. Nem sequer há questão nenhuma. O que ele, texto, deixa em aberto, no meu espírito, a dúvida que ele me suscita, é se o seu autor olhou devidamente para a cadeira. Porquê tão rapidamenmte a subestimou? Era a primeira. Esperava por mais? Mas olhou bem para ela? Deu-lhe tempo para ela falar? Se a tivesse olhado, se se tivesse sentado, ao de leve, como pode saber o que teria sentido? E se a cadeira term um segredo? E se a cadeira só se abre a quem se abrir? E se a cadeira não é a aquilo que o Sérgio, perdão, o autor do texto, imaginou, pensou, ou melhor, nem sequer o autor do texto, a sua mente, se lembrou, por motivos que caberia aprofundar, especuylou que a cadeira fosse? è difícil saber-se, uma vez que o texto está consumado e o erro cometido. Possível erro. Nunca o saberemos. Como na vida. Aquela cadeira podia ser o sonho real com que o autor do texto sonha. Podia ser a fada encantada. A cobra que tem o remédio de tudo, mas só o dá a quem lhe beija o céu da boca. E isso está destinado a quem é livre. Não tem preconceitos. Não se move por apqrências. Foi o caso. E foi uma pena. Mas havetrá mais visitas. E a cadeira espera. Mas não haver+á mais oportunidades, Sério. Você falhou. Como todos nós falhamos. Mas como podemos saber?

Anônimo disse...

Fa menor:
Desculpe-me, mas não entendi sua colocação, soa-me hostil (e tomara, minha interpretação esteja equivocada)...não faço caso de algo ou alguém em razão de supostas necessidades pessoais, mas em função da própria atitude criativa; crio pontes, itinerários e depois se me convir volto por outros caminhos ou fico a ver navios (e cadeiras vazias)...

De qualquer forma, foi um bom começo...

Abraços!

Anônimo disse...

Eduardo Aleixo:
apreciei imensamente suas observações. Sempre foi minha intenção produzir um debate em relação aos temas propostos em meus textos e, não por acaso, nunca os fecho em si mesmos, não os considero consumados. Sempre que retorno a uma leitura, um novo mote se apresenta, uma estrutura paralela que antes não vira, se abre repleta de outras possibilidades, percebeu que o mais me incomoda na cadeira é a sua felicidade?
...

Fá menor disse...

Sérgio,
longe de mim hostilizá-lo.
Apenas achei muito bem conseguido o exercicio de encadeamento de palavras e frases com bom gosto para dizer coisa nenhuma.

f@ disse...

Modelo de cadeira tramado...
Surpreendente teu texto e tramado também…
O Vazio quase existencial…
Fútil cadeira sem vida… sob a mesa a diminui e as duas despidas de sentido … esforço vão de ter recosto e pernas… imagino se tivesse um prato em cima da mesa!?...
E, porque tudo muda em cada momento… e passamos a ver as coisas de forma diferente em situações diferentes… e com sentidos diferentes talvez essa cadeira que olhas agora não seja a primeira a olhares mais logo…

Passa por aqui e Sal pica-te:

http://flautistaon.blogspot.com/

beijinhos salpicados das nuvens

Vanuza Pantaleão disse...

Uma cadeira vazia tem múltiplos sentidos. Huxley viu na cadeira do quadro de Van Gogh um sentido transcendental. Proust via numa mesa todo um universo de sentidos...Boa madrugada, Sérgio!

Anônimo disse...

E por vezes acho que a cadeira é o objeto mais triste, mais só.

Ah sim, deixei a preguiça de lado e atualizei o blog, ainda que a novidade nem seja tão nova assim.

Até.

Anônimo disse...

Fiquei tão impressionada com a pronfundidade, criatividade, e confusão sobre um texto sobre uma cadeira.

Realmente, bons escritores dão vida até mesmo a cadeiras vazias.

;]

Elvira Carvalho disse...

Uma cadeira vazia. Uma simples cadeira vazia deu origem a um post interessante. Realmente a mente humana é complexa e variada. Provavelmente essa cadeira como tema de um texto para um grupo de pessoas daria, um grupo de textos variados, e quem sabe antagónicos. Porque cada um veria a cadeira com os "olhos" da sua imaginação.
Um abraço e uma boa semana

Fabrício Brandão disse...

Sérgio, meu caro, essa história toda me lembra Copo Vazio, de Gilberto Gil. Sinto aqui algo parecido, principalmente por esse sentimento que o vazio sugere de complementaridade, mesmo que não reconheçamos esta última com frequência.

Então... "é sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar/ Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho/ Que o vinho busca ocupar o lugar da dor./ Que a dor ocupa a metade da verdade,/ A verdadeira natureza interior/... A magia da verdade inteira, todo poderoso amor."

Abração, meu caro!

Fragmentos Betty Martins disse...

olá:)__________Sérgio




PARABÉNS!





por este texto fantástico








boAsemanA


beijO_____C_____carinhO

Anônimo disse...

a cadeira estava lá vazia ...porque haveria de temela ..
eu ia sentar para ver porqe e por quanto tempo iria permanecer vazia após a minha visita a ela ou então poderia pura e simplismente admira-la,pois entre tantas lá estava a única ..uma cadeira vazia.

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