domingo, 3 de julho de 2011

De tanto você

Não sei bem se foram os mesmos dias perdidos e as noites caminhadas sem rumo de tanto que você me perseguia, predadora sombra material, pesada e densa como uma sopa de imprecisões que eu tomasse de tanto frio e solidão, afinal li tantos livros, ouvi tantas músicas, quase consigo medir o tanto de chuva que caiu no último mês. Perdi um pouco o prumo e o rumo dos caminhos esqueci. De tanto você, parece mesmo é que esqueço o rumo da prosa e me acabo em poesia, uma poesia que mistura os sabores e se inquieta dentro de mim. De tanto você me perco porque desvaneço ardendo das febres que você inspira por dentro e das vodkas servidas às tantas e em chamas. De tanto você nada resolvo com a luz não me envolvo e não volvo para ver Almodóvar te colorir. Fico te assistindo alegórica, passista meteórica de cinta-liga que me desliga e me programa para quando quiser e bem entender. De tanto você me aprisiono, me rendo, me encanto, cedo meu canto aos seus arredores deito meu pranto e adormeço para te comer melhor. De tanto você espio revistas que habitualmente não perceberia fazendo de conta prá ficar mais perto e ter uma desculpa qualquer, não me pegar boquiaberto de tanto você passar em revista meu mundo e investir artista numa tela que amanhece sem me ver. De tanto você cego meus olhos num blues de céu atônito e remoo minha cômica pose démodé. De tanto você me esquecer nem mesmo sei quem sou, imagino que talvez um verme adubando seus quintais florais, talvez brisa na finita vastidão suspensa dos seus varais, mais ainda, pó repousado nos seus poros. De tanto você nem me ver não mais me reconheço, franzo o cenho frente ao espelho que não me olha e me toco para existir. Quando estremeço e procuro alguém ao meu lado não há quem me satisfaça de tanto você.

11 comentários:

Penélope disse...

Que belo texto, Sérgio.
Sensual sem perder a linha do bom gosto e da sensibilidade.
Grata pelo convite para apreciar suas páginas.
Abraço e bom domingo

chica disse...

Muito lindo,Sergio! Atendi ao teu convite e gostei! abraço,chica

malaguetasweet disse...

De tanto você me esquecer nem mesmo sei quem sou...Lindo!

Bjsssss

ONG ALERTA disse...

Estou aqui belas palavras, abraço Lisette.

Anônimo disse...

Olá, Sergio!

Aceite o convite, aqui estou, e gostei do que li.E prometo voltar.

Um abraço.
Vitor

http://vitorchuvashortstories.wordpress.com/

Smareis disse...

Seu texto é muito bom , tem sensibilidade e é muito bom gosto. Um abraço e seguirei assim teu blog.

Vanuza Pantaleão disse...

E quanto mais te leio, me deixo levar nessa prosa poética, amorosa, gostosa, super, super bacana com tramas que me encantam de tanto nelas me enroscar.
Amigo, um belíssimo final de semana!!!
Beijossssss

Smareis disse...

Oi Sérgio vim saborear seu texto novamente e te desejar uma ótima semana. Obrigada pelas palavras. Um abraço pra ti.

Vera Basile disse...

Oi Sérgio! Amo esse seu texto! Lindo!
Bjs e saudades :)

Elvira Carvalho disse...

Seus textos sempre me deixam simultaneamente encantada e envergonhada. Porque me encantam os seus textos, mas envergonhada porque me falta engenho e arte para comentá-los.
Um abraço

B@by® Soni@ M@ri@ Grillo disse...

Amei esse texto.
Parabéns!
A frase: "Quando estremeço e procuro alguém ao meu lado não há quem me satisfaça de tanto você."
é uma das mais lindas definições de saudade que já li.
Abraços,
B@by®

baby@soniamariagrillo.com

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