quarta-feira, 28 de abril de 2010

TODO RETRATO É O MESMO

...e por ser assim, não espanto as teias vivas e pressinto o tanto de tempo que se aproxima; retratos esmaecidos sob o pó vigilante testemunham a busca e quando tocados impregnam o ambiente não com o mofo, mas com a verdade dos seus traços. Uns sorriem quase piedosos, outros se escondem e procuram as portas, as mesmas que deste lado da vida se mantém entreabertas numa espera de dias e brisas. Quem por aqui deixou seus dizeres e seus gestos ensaiados, fixou-se nas sombras, no jogo de luzes de um lusco-fusco prenhe de invernos desbotados; fixou-se como em um sonho do qual não nos livramos pela manhã, impregnou-se como um adeus que é sempre outro se repetindo no retrato que antes era um sorriso seu. Depois de tudo, ainda uma sonata e uns poucos minutos entre a certeza dos seus olhos mais ou menos castanhos e a leveza dos nossos pecados certamente doces. Depois de tudo, as teias já não se comovem com meus gestos combalidos e escondem nossas passagens secretas, tudo então é distância, solidão e canções do Djavan, tudo é uma questão de burlar as leis da natureza e flutuar pelo sótão como quem procura suas pegadas ou chafurdar na embriaguez dos seus cheiros cheios de mim e de quem mais? Entre todos os retratos que não mais alcanço, o seu é o que mais se insinua, mesmo que dele reste apenas a moldura e os motivos que o arremessem contra a parede, mesmo que dele restem as teias e o tempo exato de contar-lhe a estória.

2 comentários:

Khalit Sabanur disse...

Intenso, quase febril...

Alimentou o vício da minha alma

Abraços...
Beijos...
Festejos...

f@ disse...

Olá Sérgio,

... saudades de te falar

e desculpa a ausência

...

Sempre a teia rendilhada das tuas palavras e o colorido de asas....

adorei teu texto como sempre

...

Abraço grande e !nfinito beijinho

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