Não tenho mais dizeres prontos encapsulados nas vértebras, nem condutas pífias e maltrapilhas travestidas nos passos do meu dia, sequer pensamentos que me acompanhem as preces em cuja ponta um iceberg dá destino a pequenos deuses insepultos.
Na aventura que chamam vida, minhas investidas a céu aberto não possuem escudos e nem o pernoite gratuito; criva meus pés com as dores do caminho e cega as intenções de meus desafetos com o aço das palavras.
Se antes a canção acarinhava minha face e sorvia minhas lágrimas para dentro da tempestade, agora me arremessa por sobre os muros de uma vizinhança morta, antecipando as visões de um futuro sem metáforas.
Tenho terrores que escorrem larva pelo peito e fazem de cada paixão um desafio de titã e uma porção de ausências tatuadas que me escapolem pelo profundo do escuro exaltado.
No sobrevoo que precede a queda, o anjo cospe insatisfações antes do asfalto. Na conversão a brisa se torna canção e o inferno lhe toca o plexo, o sexo saboreia tantos outros sabores e as mãos descobrem tantas outras inspirações que os dizeres do paraíso se tornam imprecisões. As asas de Ícaro que tanto me feriram as costas já não são precisas e nem o sol uma grandeza intocável; o caminho é só um fato e percorrê-lo, necessário.
8 comentários:
Envelhecer é tarefa díficil, amar irreal...e a gente vai se tornando fantasmas do que fomos.
*Sempre, sempre é bom poder te ler.
Bjs
Até emendo dizendo que realizar é preciso. Sua prosa poética, Sérgio, inscreve signos intensos sob a pele dos nossos dias.
Abração!
Vc. é um escritor de alma viva.....
Vc. é capaz de fazer contrato até com o sol.
Nunca deixe de escrever, esse texto é um carinho...
Adoro, seus textos....
Encantam a alma....
O caminho é só um fato? Futuro sem metáforas? Não com você Sérgio! Meu caminho é mais do que um passo atrás do outro, eu voo em suas penas de escritor. Minha vida é uma metáfora pura quando leio seu blog! Você não só é Icaro que voa próximo do sol... mas nos levas em suas asas de artista.
Beijos.
Lá está:
http://malaguetasweet.blogspot.com/2011/05/repouso.html
Bjssssss
só sei que ando assim tão realista quanto tristonha...
Espero que as asas se recomponham, se refaçam, se regenerem, sejam reinventadas, tecidas e rebordadas, mesmo quando se escolha trilhar um caminho mais perto do chão, já que, viver um pouco flutuante, e voejar ao mesmos por uns instantes, é o que nos salva da aridez, dureza ou amargura de quando se prende demais ao "real" rígido do cotidiano. Beijos e abraços alados, amigo querido!!!
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