sábado, 3 de janeiro de 2009

ALÉM DAS VIDRAÇAS, ADIVINHAÇÕES

Certamente, não se descortinam os edifícios à minha frente, pois concretos. Não posso tocá-los e nem afastá-los um pouco para o lado entrevendo teus passos conspirados pela vontade de quem narra; não posso sequer fazer-me ouvir tal a distância entre a realidade e as linhas que se multiplicam nas adivinhações do escritor. Estás do outro lado, aonde não te alcanço, aonde não posso lançar-te as cordas e nem a sorte; fixa às páginas donde arrancá-la corromperia a própria compreensão da trama. Estás quase levitando enquanto os edifícios medonhos e cinzas se esparramam no meu parco horizonte. Faz frio dentro da minha inquietude, mesmo que o sol desabe a pino. Faz frio porque me parece mais dramático. Atrás do vidro a incompreensão do sol agarrado à rua cega-me tão duramente que te esqueço a pique nas marés de outras avenidas; barcaças e barcarolas se fingem de ti, mas astuto não embarco, e por não fazer o papel principal lembro-me, além das vidraças que não te ouvem, dentro das roupas que não te vestem, ouvindo as músicas que teu corpo não dança mesmo em noites frias e depois de tantas tequilas, outra vez de ti. Lembro-me de buscar as trancas e deixar atrás de mim a porta escancarada sem pensar em mais nada que não fosses tu, mas as entrelinhas da narrativa crucificam-me à vidraça, à luz filtrada de um sol abobalhado, à velocidade de uma fuga em si bemol. Tu, então, não és mais nada além das letras que escrevo e leio. Que escrevo e leio para sonhar. Para sonhar com as adivinhações além dos edifícios. Além dos edifícios que não me deixam olhar-te. Olhar-te, além da visão; ver-te além das palavras.

14 comentários:

sagitario disse...

gostei de visitar este cantinho, é calmo, mas muito rico em conteudo, por isso irei voltar sempre, só não consigo assinalar como seguidora, assim era mais facil estar actualizada.
Os assuntos são de todo o interesse por isso é uma visita agradável.
um abraço

Sr do Vale disse...

Finalmente caro amigo, estás de volta com suas tramas e desta vêz com uma grande explosão de um desejo oculto, talvez o da implosão do edifício que cerceia sua visão.

Abraços.

Anônimo disse...

gostava de criar um blog só pra ser tua seguidora,mas queria um lindo visual que não consigo construir... só sei que iria ter um nome estranho, do tipo:
'Crab, Relâmpago, Lance, Júlia, Silvia, Valentino e um sujeito que se fosse mais claro mudaria de nome todos os dias'... meio longo, né? sinal de que às vezes temos pouco tempo pra screver pouco! (rs)

bem vindo a cidade cinzenta!
abs

Srta. Ovenish

f@ disse...

Olá Sérgio,

Magnífico este texto – ALÉM DAS VIDRAÇAS… espelhas nas palavras imagens esculpidas de sentidos -RELER AS PALAVRAS... RE VER…RE BUSCAR…
Pairar AQUI na “trovoada” cuidadosa mente ruidosa dos teus textos raiados nesse horizonte de cidade e mar… ocaso se prolonga pela noite imensa se sonhar um amanhecer fumegante de né voa matinal que se es vai sentindo o dia correr nos pensamentos quais gestos apressados a calar a voz do coração…
Espectral o cimo das torres dos edifícios pensantes… a tocar a( dist)ância… (desa) fiar um barco a navegar nas nuvens… e nós quietos a vê-las per correr cansadas o labiríntico caminho para o mar…
Profecias flutu antes afundadas surgem na crista das ondas, rodopiam exaustas e espraiam-se na areia…” paz”…
a brancura da espuma a borbulhar seduz o areal …

Adorei este texto…
Beijinho salp!cado das nuvens

Cristiana Fonseca disse...

Olá Sérgio,
Belissimo texto. Aliás deslumbrante escrita.
Abraços,
Cris

Elvira Carvalho disse...

Depois de uns dias de ausência, (desta vez foi o pc que foi para o hospital) estou de regresso.
Agradeço-lhe e retribuo os votos de bom 2009.
Um abraço e bom fim de semana

Unknown disse...

Além do concreto, além das vidraças, além do intocável, permanecem os sonhos e pulsam corações, muitas vezes no mesmo rítmo, sincronias espontãneas, que só o acaso os poderá tornar visíveis...
Continuo a amar a tua escrita, que se me atinge com grande intensidade.
Obrigada.
Bjusssssssss
Elivan

mundo azul disse...

_________________________________

...ver além da visão...O verdadeiro olhar!

Bonito o que você escreveu!

Beijos de luz e o meu carinho...

___________________________________

Anônimo disse...

Metade Pássaro

A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber as estátuas,
Dá de sonhar aos poetas.
A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio.
Faz a virgem virar pedra.
Cura a tempestade,
Desvia o curso dos sonhos.
Escreve cartas ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.

Murilo Mendes

Boa noite,
gostei dos
seus poemas.
Espero que
goste do que
escolhi pra ti.

Abs
Yvan

Sergio Rocha disse...

Ana (Sagitário):
...que bom tenhas apreciado minha “trama”, espero que volte mais vezes e que consiga inscrever-se como “seguidora” (curiosa esta expressão, não??..rsrs)...Bjs!!

Grande Sr. do Vale:
Pois é, o que desejaria esse escriba a não ser trespassar edifícios? Vencer o tempo? Abração!!



Srta. Ovenish:
Ah! Não se preocupe com o tamanho do nome, siga-me por aqui com o nome que quiser...e quando quiser...

Fátima:
Minha amiga querida de além-mar, teus comentários me enchem de alegria e inspiração, pois tão férteis e delicados...acho que mais os adoro que você a meus textos...rsrsrs...bjs!!

Cris:
Minha linda...fico feliz que tenhas gostado...acompanho teus desenhos, embora não em sobre tempo para um comentário...não gosto de fazê-los a esmo...obrigado pela visita...bjs!!

Elvira:
Paz e amor em 2009 e sempre...que nos tenhamos sempre por perto...rsrsrs....bjs!!

Elivan:
Querida, estás por aqui por perto, não? João Pessoa? Ou já de volta à África?
De qualquer forma, obrigado por, finalmente, reaparecer...fiquei muito feliz...bjs!!!!

Zélia:
Obrigado pela visita, apareça...sempre. Prometo visitá-la...bjs!!

Yvan:
Gostei muito!!
...e quem bom que tenhas apreciado os meus...volte sempre. Grande abraço!!

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Escrevo, leio e pinto para sonhar... ou, deveria dizer, sonho enquanto pinto, escrevo e leio? Ou sonho para escrever e pintar? Viajamos, sonhamos, criamos, crescemos ao produzir "ficções", e ao compartilhá-las, com outras almas sonhadoras, viajantes, criativas...
Faz tempo que não apareço, é verdade! Mas andei mais silenciosa e cuidando de coisas igualmente vitais e importantes, e sempre voltarei, para visitar os jardins de letras, asas e cores dos amigos! Beijos azuis.

Oliver Pickwick disse...

Houve um tempo em que adivinhações eram artes do grão-tinhoso, punidas com a morte na fogueira santa. Ainda bem que os tempos são outros e podemos ler sem receio contos-crônicas poéticas deste tipo.
Um abraço!

Oliver Pickwick disse...

P.S.: Sobre o seu comentário:
na fonte onde baixei as partituras das canções do meu último post, havia especulações de que estas foram compostas na pré-renascença (século XV), já com o espírito da onda do momento, o renascimento. Como você, também as considero legítimas canções medievais, no entanto, o artigo era assinado por um renomado maestro e preferi manter a sua (dele) classificação.
No entanto, após o seu comentário, resolvi caracterizá-las como pertencente à música medieval. Que o maestro não nos leia.
De qualquer modo, o século XV ainda é Idade Média.
Um abaço!

j disse...

nossa... calmo e tenso, calmo e tenso... e não explode, mantém um círculo louco que não explode. estou ecoando por aqui.

Foi um prazer te ler.

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