terça-feira, 24 de junho de 2008

Pequenas mentiras

Antes de catar palavras no chão batido das entrelinhas e acreditar que não fomos além das janelas (porque lá fora, a vastidão certamente nos roubaria a razão) uma brisa que é só carinho alinha o pensamento ao vagar deste mundo de imprecisões sob formas tantas que desisto de perguntar. Se pedra pau água passarinho, se caminho cantiga ou teus pés pisando sem alarde as folhas do quintal, desisto. Se lua sol dia preguiça ou um sem querer que nunca mais acorda nem faz festa de chegar, desisto. E desistindo assisto estes tons de fim de tarde que insistem em me assombrar não porque medonhos ou afoitos, mas porque repousam dias que não mais e sorrisos nem ainda. Antes das apostas e dos punhais que se cravam à sorte das flores despidas tem uma porção de invencionices à porta, carneiros multicores que balem sem sentido e baleiros que giram tão velozes que deles não se pressentem sabores nem cores sem falar nos tambores que atordoam os passantes e até da sereia no jardim por obra e graça da aventura inventada no mesmo palmo de terra onde construo mais tarde a saga dos meus samurais e esqueço que um dia te amei pisando a mesma umidade de folhas descaídas de ventania súbita e miragem ressentida. O tempo que se alastra na escuridão, num instante faz-se manhã de improviso e inquietação trazendo-me anúncios desclassificados, além dos boatos costumeiros, felicitações e pecados amiúde. É só querer e a gotejante inspiração de seiva ou mesmo os motivos delinqüentes de quem não mais se atreve à solidão, inspiram as horas que voam rasantes tocando-lhe de leve o ombro, lembrando-te os motivos e as poucas purgações, as escolhas divertidas feito bolhas de sabão, as conversas em meio às roupas no varal, nossas pequenas mentiras e as idas ao cinema por sob as dobras do lençol.

16 comentários:

Cristiana Fonseca disse...

Olá, belíssimas palavras. Sublime texto e ou poema.
Adoro teu blog, é um dos melhores que tenho o prazer de visitar.
Visite-me também e seja bem vindo, o meu é
http://cristianafonseca.blogspot.com/
Abraços,
Cris

Gi disse...

Assim torna-se mais fácil visitar-te. Depois de tantas tentativas falhadas, cá estou eu. Obrigada pelo convite. Foi um momento bem passado, também de vez em nquando desisto de perguntar e deixo-me ir ...

Beijinho

Paula Crespo disse...

(...)as idas ao cinema por sob as dobras do lençol. Bela metáfora esta!... Excelente texto!
Beijos!
P.S.: Ah, também gosto desse textinho que você tem "...sejamos amigos na arte e na vida". Soa bem.

Stella Petra disse...

Suas palavras me levam a navegar por belas paragens, permitindo o espírito livre...e quem não quer ter essa doce sensação?
Parabéns pelo espaço encantador, pela estrada que nos move a seguir sempre em frente sem medo, querendo viver e usufruir o que vem logo na primeira virada de esquina...
Obrigada pelo convite!
Abraços
Stellinha :)

Cristiana Fonseca disse...

Olá Sérgio ,
Obrigada pela visita e pelas palavras gentis.
A casa é um desenho feito por mim sim, todos os desenhos la postados são de minha autoria.
Beijos,
Cris

Nilson Barcelli disse...

Magnífica prosa caro amigo.
Vc faz das palavras o que quer, molda-as a seu bel-prazer e dá-lhes a cor que a cada momento mais convém.
Este texto é uma espécie de obra plástica, ao seu estilo inconfundível, que delicia quem a lê.
Parabéns pela qualidade literária.

Abraço.

Sr do Vale disse...

Sérgio, parece até que já vi isso tudo pintado "carneiros multicores". Enquanto me debruço sobre as tintas, você se debruça sobre as palavras, ou são elas que te levam?

Abraços.

(Rendeu-se ao gigante)

Sr do Vale disse...

Não há meio de te mandar um e-mail, já tentei várias vezes neste endereço: serginhostone@gmail.com

Fabrício Brandão disse...

É sempre bom percorrer teus signos, Sérgio! Parabéns pela casa nova que, com certeza, abrigará almas sensíveis e fiéis, todas elas embutidas em palavras.

Salve, salve!

Anônimo disse...

Um amor senta-se e permanece estoicamente activo na magnitude uterina do seu esplendor.



Abraços do EU, SER IMPERFEITO e d´A SEIVA

f@ disse...

Novo e bonito visual....Parabéns.
Olha que as mentiras nunca são pequenas...

Não desistas de perguntar "Se pedra pau água passarinho, se caminho cantiga ou teus pés pisando sem alarde as folhas do quintal... Se lua sol dia preguiça ou um sem querer que nunca mais acorda nem faz festa de chegar, ..."
Texto mto bonito.... e para reler...beijinhos das nuvens

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Deliciosa trama de palavras, linhas, sentidos... Tua urdidura eternece, encanta, toca e aquece, os fios e laços e espaços, os sons os silêncios, as frestas, as fugas... tudo num ritmo inexato, num compasso fluido e delicado, como que um trabalho de crochê, com cores e afetos! Abraços alados, amigo.

Oliver Pickwick disse...

Rapaz, por algumas vezes estive preste a lhe sugerir a mudança de servidor. Porém, esta é uma escolha pessoal. O blog do UOL parou no tempo, tem poucos recursos e, odeia o navegador Firefox.

Continuo fã dos seus temas e alegorias essencialmente urbanas, típicos da metrópole, contudo, numa linguagem pincelada de elementos do interior. É uma dualidade original, e, a sua identidade como escritor. Talvez, por conta de uma origem interiorana.

Desculpe a ausência, mas a minha falta de tempo tornou-se crônica e progressiva.
Um abraço!

Aline disse...

Esse texto é regozijo puro! Vi-me ante pintura surrealista e tenra de palavras libertadas, isto é, amei!

Van disse...

"...nossas pequenas mentiras e as idas ao cinema por sob as dobras do lençol."
E eis que a vida é mesmo esse nonsense diário.... E você retrata isso muito bem.
Permita-me uma pretensão despretensiosa, mas teus textos parecem comigo.
E não. Não tiro o verde desses zói de riba docê, Kalu. Ocê tá mangando de eu?
De que forma vou ler o que você escreve sem meus zóio?
;)
Deixe-os comigo. Que é pra te ver.

BeijucasMinhas

VAN FILOSOFIA!

M Da Silva disse...

Adorei as palavras sentidas e escritas neste lindo poema!

Realmente é um poema fantástico...
Que nos faz sentir e pensar!

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