domingo, 24 de abril de 2011

(Des)semelhanças

Bem-te-vi bem ligeiro que nem a vi por inteiro, um pouco do corpo alvo esguio sumindo na página destacada sem compromisso com o leitor a ver navios. Da decisão de voar entre os bólidos desajuizados até pegar-me, eu mesmo, sem juízo, tornou-se perfume, um frescor quase gélido deixado por onde andaste; um martírio doce penetrando-me as narinas, atirando-me longe quando ainda fazíamos amor e festa a qualquer hora. Tão ligeiro que ficou a dúvida se verdadeiro, mas o perfume quase corpóreo, a silhueta furtando-se da retina, os olhares que também viram e não souberam nada em absoluto, mas um fragmento de beleza indizível e então a nau zarpando deste ancoradouro, sombra veloz no nevoeiro. Ligar, insistir, deixar recados nos muros e nos guardanapos, olhar por todas as frestas e quem sabe encontrar um gesto, uma sugestão que fosse. Quem sabe descendo as mesmas ladeiras daquela adolescência colorida ou subindo no mesmo trem que nos levava para qualquer lado. Decidi voar por entre os bólidos desajuizados porque não fazia nenhum sentido preservar o senso e voando sem juízo vi que você se multiplicava. Bem podia ser aquela loira franzina que disfarçadamente me olhava enquanto não se decidia entre partir e ficar ali olhando as horas, bem podia ser alguma garotinha ruiva com sardas indefectíveis e seios pequenos, no entanto, tão autossuficientes e idade o bastante para compreender que, embora predadores, também somos meninos a maior parte do tempo. Bem podia ser qualquer uma, vai ver uma dessas que sumiu no exato instante em que resolvi me perder no seu encalço. Melhor voltar, esperar que escureça e que todas fiquem tão mais iguais, máscaras que se larguem por todos os cantos enquanto eu finja nem sabê-lo e me distraia com qualquer uma que me saia como você, que tenha um timbre vocal semelhante ou um jeito de mexer nos cabelos suspendendo-os no alto da cabeça deixando a nuca a descoberto e todo o resto por dizer.

domingo, 10 de abril de 2011

É preciso descobrir se ainda estamos vivos


Hoje espero mais que uma rajada de vento. Espero logo a ventania e aquele mundo que acontece aqui ao lado. Espero que venha tão logo saia do banho, ainda orvalhada e apressada, ainda nua cheirando a alguma artificialidade e com os poros destacadamente à mostra. Talvez eu tenha uma vodka e nos encharquemos enquanto procuramos algum motivo que valha a pena, além do sexo e das conversas que, em geral, só nos levam até o outro dia.
Então sabemos de um mundo possível e projetamos algumas formas e até ensaiamos nossas surpresas para com aqueles que nos espiam ávidos; querem mais e esmurram a porta, querem tão mais que chegamos a ouvir seus corações em tormento. Mas preferimos ignorar e amornar mais um chá e folhear revistas velhas à cata de inspiração ou de uma dúvida que nos faça abrir as janelas e deixar o sol se largar pela sala.


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