quarta-feira, 28 de março de 2012

domingo, 25 de março de 2012

Nascer velho e morrer criança

"[...] Com oitenta anos nasceria rico, sábio e aposentado! [...] Mas a vida, então, teria que ser recriada, o mundo teria que regredir séculos! Cabral e Colombo "desdescobririam" o Novo Mundo, o homem "desinventaria" a roda, atingiria o desconhecimento da pólvora e do fogo, até chegar a Adão, o último homem. O último-primeiro homem a quem Deus, colocando-o sobre a sua mão, em vez de lhe soprar a vida, o inspiraria novamente para dentro de Si".

Chico Anysio (1931-2012) e Ary Madureira Filho (Marcos César-? - 1987)

domingo, 18 de março de 2012

Carnal Carmim

Na primeira manhã alguém que era deus com a boca pintada chegou.
Os cabelos molhados encharcaram o tapete e o corpo no encontro vitimou outra fatia.
Saia quase nua na sala de um sol quase letal.
Meus olhos executaram sentenças roubando-a de abismos e jogando-a a alguns poetas enquanto eu me despia.
O silêncio parecia agonizar já que enlouquecido pretendia amordaçar-nos com as suas carícias, porém nós o imitávamos e vez em quando o assassinávamos gemendo.
Alguém partiu.
Dúzias de pequenas dúvidas na bolsa e a nítida certeza de que estava completamente sem cigarros.
Preguiçosa olhou-me do semáforo, os olhos temiam o meu desaparecimento.
Nunca imaginaria que os raptos acontecem imperiosos ao entardecer e que alguns poetas choram no exato instante em que as andorinhas adejam até enlouquecerem os expectadores.
Sonhei, outro dia, abraçá-la despudoradamente até causar chamas n’alma.
Ambicionava intimamente fantasias e covardemente sangrei.
Mereci o talho.
Reagi dentro das manhãs repetidas até que exauridas dos passos cotidianos e pasmos fugiram em direção da noite.
Por onde andará o próximo beijo?
Não sei.
Um dia, quem sabe, descubro seus lábios, talvez amordaçados num carmim desesperado e os beije com fogo, bem antes das primeiras manchetes, antes que nos esqueçamos tão sós depois do último instante. 

Fotografia: Rodney Smith
Título original do poema: Cabelos molhados

domingo, 4 de março de 2012

Circularidade

Não sei e não faço
E se faço
Faço incorreto incompleto
E logo desfaço
Desfeito o que quase faço
Ou que se faz em mim inacabado
Não sei se desfiz ou me desfiz outra vez por completo
E se desfeito aniquilado
Procuro-me nisso que em você é como um ficar ausente
Um ir-se sempre retornando mesmo que não completamente.


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