domingo, 19 de junho de 2011

Meio a meio

O que mais anoiteceu além da voz por detrás da porta foi a certeza da fome que fez correr ao telefone pedir qualquer coisa pizza quem sabe e nesse meio tempo esquecer o olhar lá fora procurando luas e sensações afagos destes que os bichos fazem sem que compreendamos por inteiro e só então perceber outra fome ainda mais profunda mais de dentro uma fome de saudades impossíveis à superfície essas saudades pontiagudas que nos roubam oxigênio e nossos melhores talentos.
Mais que as cinzas e as baganas nos cinzeiros dispostos pela casa o que ressequiu mais que a boca foi o esquecimento do gesto próximo ao queixo nem tanto o passo no corredor que por nada se inquietou ficou no aquém da reta e ameaçou pouco aquele que fartou a farra à beira do batente lembrando que o olhar pela janela desenhou um susto mais ou menos acidental e que não bastariam festas todas as noites e nem convites inesperados que nos levassem a mundos mais brilhantes e divertidos.
O que mais aconteceu foram horas chegadas de longe ontem antes talvez horas tórridas suadas sonâmbulas de braços à sorte de um ir e vir pelos mercados e sonhos pelos ermos de um bairro onde a casa tão mais anoitecida que o fim aguarda que rabisquem noutra página um pedido qualquer antes que desliguem antes que avivam todos os seus olhares pelo sem fim da janela que leva daqui lá prá fora mesmo sem partir e traga uma meio a meio; portuguesa e quatro queijos? Ou a certeza de que a fome é outra e que o meio é a ida, o meio é a volta?

domingo, 5 de junho de 2011

Geometricamente só

Quero crer na esquina e achá-la parecida com aquele dia só porque fui tão feliz ao vê-la sorrir ali pela primeira vez; nem era dia nem nada, nem escuro, nem claro, só uma esquina que lhe servia de moldura, cenário, fundo, partitura, uma esquina de luz incontida, um quadro de linhas em perspectiva que te levavam e traziam pela mão como se houvesse algum ponto de fuga escondido, uma vontade que resolvesse nossas ações e fizesse das suas e das nossas a pressa, a chuva fina, o tecido da bata tão fino molhado e o encanto dos bicos róseos na rosa tonalidade da esquina. Um altar que talvez reconstruído em outra dimensão só porque o tempo passou tão rápido pela esquina que não tivemos tempo de olhar o desenho que ali deixei, bobagem de quem se surpreende amando tanto mesmo que só um instante, o instante de virar a esquina e olhar-se só, muito embora no desenho um homem e uma mulher se dessem as mãos e resolvessem caminhar um pouco mais além da esquina e da possibilidade quase geométrica de sumirem um do outro.

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