Não tenho mais dizeres prontos encapsulados nas vértebras, nem condutas pífias e maltrapilhas travestidas nos passos do meu dia, sequer pensamentos que me acompanhem as preces em cuja ponta um iceberg dá destino a pequenos deuses insepultos.
Na aventura que chamam vida, minhas investidas a céu aberto não possuem escudos e nem o pernoite gratuito; criva meus pés com as dores do caminho e cega as intenções de meus desafetos com o aço das palavras.
Se antes a canção acarinhava minha face e sorvia minhas lágrimas para dentro da tempestade, agora me arremessa por sobre os muros de uma vizinhança morta, antecipando as visões de um futuro sem metáforas.
Tenho terrores que escorrem larva pelo peito e fazem de cada paixão um desafio de titã e uma porção de ausências tatuadas que me escapolem pelo profundo do escuro exaltado.
No sobrevoo que precede a queda, o anjo cospe insatisfações antes do asfalto. Na conversão a brisa se torna canção e o inferno lhe toca o plexo, o sexo saboreia tantos outros sabores e as mãos descobrem tantas outras inspirações que os dizeres do paraíso se tornam imprecisões. As asas de Ícaro que tanto me feriram as costas já não são precisas e nem o sol uma grandeza intocável; o caminho é só um fato e percorrê-lo, necessário.