domingo, 3 de janeiro de 2010

Os Matizes da Era de Peixes


Quando descubro que todo caminho é atalho e todo corte cicatriz, atino que velocidade e contemplação são traços de um mesmo matiz, risos tímidos, pois advertidos na boca de uma gargalhada ferida, exposição tacanha capaz de esgueirar-se nas sombras de um colo gigantesco que não se diria acorde nem refrão.

Tudo tão pouco fruto e raiz esparzida, tudo folha e secura franzina, véu de posses entrecortadas e juízos de um sempre vazio, tudo é vastidão e princípio, muro e visão por entre os vãos que se destacam ocos por dentro dos olhos loucos que poucos veem como aparição.

Tudo é muito enquanto durmo sonhos de preguiça fluida, enquanto mitigo mistérios ao largo das portas e do coração, tudo tão manhã maná e manha que povoo de mim este recanto de projeções mudas, tudo tão lamento quanto perdição por fora, anavalhada em cena aberta, tudo tão pouca luz que se desfia e desafia o tempo extinguindo-se para sempre e nunca filete translúcido deparando-se só; lanterna abandonada no último instante da criação, na primeira inspiração pisciana quando então tudo é forma e vibração e os vermes principiam nas ventas seus caminhos de redenção e desvario, e tudo é correria e um abrir de cortinas tangendo restos.

Deixo o primeiro dia da sua vida, a primeira manhã da mulher gritar para dentro e acordar essa tola imortalidade. Deixo que tudo germine nos beirais e revoo junto às aves que desenham meus pequenos segredos de ninguém; espio antes as feridas ressequidas de tanto que as crianças brincam nos jardins dos pequenos deuses, aqueles que cantam enquanto criamos as horas e tantas aberrações. Movo-me inquieto e desperto outro alguém que trago em mim, alguém inventado às pressas, forjado no olho mágico que espreita, lê jornais de outro tempo e acena todos os dias como nunca mais.





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