terça-feira, 24 de junho de 2008

Pequenas mentiras

Antes de catar palavras no chão batido das entrelinhas e acreditar que não fomos além das janelas (porque lá fora, a vastidão certamente nos roubaria a razão) uma brisa que é só carinho alinha o pensamento ao vagar deste mundo de imprecisões sob formas tantas que desisto de perguntar. Se pedra pau água passarinho, se caminho cantiga ou teus pés pisando sem alarde as folhas do quintal, desisto. Se lua sol dia preguiça ou um sem querer que nunca mais acorda nem faz festa de chegar, desisto. E desistindo assisto estes tons de fim de tarde que insistem em me assombrar não porque medonhos ou afoitos, mas porque repousam dias que não mais e sorrisos nem ainda. Antes das apostas e dos punhais que se cravam à sorte das flores despidas tem uma porção de invencionices à porta, carneiros multicores que balem sem sentido e baleiros que giram tão velozes que deles não se pressentem sabores nem cores sem falar nos tambores que atordoam os passantes e até da sereia no jardim por obra e graça da aventura inventada no mesmo palmo de terra onde construo mais tarde a saga dos meus samurais e esqueço que um dia te amei pisando a mesma umidade de folhas descaídas de ventania súbita e miragem ressentida. O tempo que se alastra na escuridão, num instante faz-se manhã de improviso e inquietação trazendo-me anúncios desclassificados, além dos boatos costumeiros, felicitações e pecados amiúde. É só querer e a gotejante inspiração de seiva ou mesmo os motivos delinqüentes de quem não mais se atreve à solidão, inspiram as horas que voam rasantes tocando-lhe de leve o ombro, lembrando-te os motivos e as poucas purgações, as escolhas divertidas feito bolhas de sabão, as conversas em meio às roupas no varal, nossas pequenas mentiras e as idas ao cinema por sob as dobras do lençol.

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